Refugiadas vivendo no Brasil aprendem sobre cultura local e direitos das mulheres 20/04/2017 - 13:30
Cerca de 30 participantes, entre palestrantes, especialistas e refugiadas, estiveram presentes no evento. Mulheres vindas do Oriente Médio, da América Latina e da África Subsaariana foram informadas sobre os direitos que lhe são garantidos pela Constituição brasileira.
“Nenhuma mulher precisa passar por algum tipo de constrangimento, seja brasileira ou estrangeira. Tem que denunciar, porque o abusador entende que o silêncio é consentimento, e o silêncio não é. A violência que pode começar com um xingamento, com o isolamento, pode evoluir para uma agressão física ou até mesmo para um feminicídio”, explicou a promotora de Justiça do Ministério Público de São Paulo, Maria Gabriela Prado Manssur.
Participante do primeiro encontro de 2017 do Empoderando, uma refugiada colombiana compareceu ao evento para compartilhar sua experiência com o projeto. Após o primeiro workshop, em março deste ano, ela foi contratada como atendente de turismo. Sua reinserção no mercado de trabalho foi intermediada pelo Posto de Atendimento ao Trabalhador (PAT), serviço do governo do estado de São Paulo.
“Estou muito contente. Acredito que todos nós temos que colocar um grão de areia nessa batalha. Eu e minha família lutamos muito nesse país, desde o primeiro dia. Temos sempre que acreditar que amanhã vai ser melhor”, contou ela, que está há mais de dois anos no Brasil.
Planejamento da carreira e empreendedorismo foram alguns dos temas discutidos no encontro do Empoderando Refugiadas. Foto: Rede Brasil do Pacto Global/Fellipe Abreu
Cibele Delbin, consultora de Responsabilidade Social e Diversidade do Carrefour, reforçou o interesse da empresa em contratar refugiadas. “Nosso interesse em trazê-las para fazer parte do nosso quadro é total. E a ideia é agregar valor na vida de vocês, e que vocês percebam mudanças positivas a cada workshop”, disse.
Língua e cultura
A segunda parte do encontro foi dedicada a ajudar as refugiadas a compreender aspectos da cultura brasileira. Outra pauta das discussões era a importância do domínio da língua portuguesa. Claudia Pirani, do curso de línguas estrangeiras LanguageLand, foi categórica: estudar é algo que se leva para a vida, mesmo que já se tenha muito conhecimento.
“Além de falar muito bem, vocês precisam escrever bem e abrir o ouvido. A novela ajuda a inseri-las no ambiente. A música é outra coisa que ajuda muito na questão de sonoridade, vocabulário e expressões”, comentou a especialista, destacando a necessidade de trazer o aprendizado do idioma para o cotidiano.
Erika Zoeller, da BPW, explicou sobre a “cultura do não dito” – aquilo que é tido como norma na sociedade, mas que não está escrito em nenhum lugar – e sobre aspectos como as diferenças culturais entre homens e mulheres.
“Quando eu tive meu filho, na China, não sabia que levar comida para o hospital era responsabilidade da família do paciente. Eu já vivia lá há dez anos, mas nunca tinha tido um bebê no país”, contou Erika, em tom descontraído, para exemplificar aspectos da brasilidade que podem parecer estranhos a quem vem de fora do país.
Empreendedorismo
Ao final do dia, as refugiadas receberam orientações sobre carreira e empreendedorismo com profissionais voluntários de companhias como Carrefour, Sodexo, Renner, IBM, Emdoc e também da organização não governamental Migrafix.
Ao conversar com duas participantes do Empoderando, o analista de Sustentabilidade da Renner, Leandro Parker, comentou sobre as intenções da empresa em aumentar o número de refugiados em seu quadro.
Segundo Parker, a Renner conta hoje com cinco refugiados, mas vai destinar 75 vagas em cursos de formação – com carga horária de 150 horas – para os que vêm refazer sua vida no Brasil. O compromisso da direção da companhia é de que pelo menos 50% dos alunos dos cursos, que vão acontecer em São Paulo e no Rio, sejam efetivados, seja na Renner ou em outras corporações.
“Essa questão é de extrema importância para a gente, por se tratar de mulheres que estão numa situação duplamente vulnerável, não apenas pelo gênero, mas por serem refugiadas. Queremos ser parte da solução porque temos plena consciência de que os problemas do mundo são nossos também”, avaliou o analista.
O Empoderando Refugiadas é coordenado pela Rede Brasil do Pacto Global — por meio de seu Grupo Temático de Direitos Humanos e Trabalho —, numa iniciativa conjunta com o Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) e a ONU Mulheres.
O projeto tem como parceiros estratégicos a Cáritas Arquidiocesana de São Paulo, a Fox Time Recursos Humanos, o ISAE e o Programa de Apoio para a Recolocação dos Refugiados (PARR). Além disso, conta com as seguintes empresas parceiras: Carrefour, EMDOC, Facebook, Lojas Renner e Sodexo.