A história do trabalho na América Latina e suas relações com a Organização Internacional do Trabalho (OIT), iniciadas há 100 anos, são estudadas por pesquisadores que investigam eventos trabalhistas, sociais, econômicos e políticos da região, em busca de elementos para uma melhor visão do futuro a partir da compreensão do passado.
“Existe uma relação virtuosa entre a América Latina e a OIT, com altos e baixos e momentos de esplendor”, disse esta semana Pedro Daniel Weinberg, presidente da Fundação Electra, que passou por Lima com um grupo de historiadores para apresentar uma série de livros que abordam o desenvolvimento desse vínculo sob diferentes ângulos.
Weinberg, que no passado foi diretor do OIT/CINTEFOR, o Centro Interamericano de Desenvolvimento do Conhecimento em Formação Profissional, compilou uma série de estudos em um livro intitulado “A OIT na América Latina, origens de um relacionamento”, no qual são explorados os eventos dos primeiros 20 anos da Organização fundada em 1919.
“A historiografia americana sobre o trabalho foi reforçada por muitos anos com a abertura deste novo campo de interesse: a história da OIT e seus escritórios em nossa região”, afirmou Weinberg. “A América Latina tem sido decisiva no desenvolvimento da OIT e a Organização tem sido decisiva no desenvolvimento de instituições de trabalho na maioria dos países.”
A ratificação das normas internacionais do trabalho na região e a forma como elas influenciaram os diferentes países, a primeira reunião regional da história da OIT realizada no Chile em 1936, os desafios trabalhistas, o papel dos delegados dos países ou as consequências da primeira viagem à região de Albert Thomas, o primeiro diretor-geral da Organização, em 1925, estão sob a lupa desses historiadores.
Em uma série de debates realizados na Universidade Católica do Peru, os historiadores que investigam a OIT também apresentaram livros com ensaios abordando os primeiros representantes da Organização em alguns países, a presença de delegações da região nas primeiras reuniões da OIT e suas posições, e tópicos específicos como “Ciência, política e domesticidade: a OIT e o estudo de famílias assalariadas”.
O reitor da Faculdade de Direito dessa universidade peruana, Alfredo Villavicencio, destacou que, na própria criação da OIT, como parte do Tratado de Versalhes que encerrou a Primeira Guerra Mundial, já existe uma influência latino-americana. “Existe uma conexão direta com a constituição mexicana de Querétaro” de 1917, explicou.
A redação da parte XIII do Tratado ficou a cargo de uma comissão chefiada pelo norte-americano Samuel Gonpers, que havia acompanhado de perto o processo constitucional mexicano. Além disso, entre seus membros havia um jurista da região, o cubano Antonio Sánchez de Bustamante.
Entre os 42 Estados-membros fundadores da OIT estão 16 países latino-americanos. O especialista da OIT Humberto Villasmil destaca em um dos artigos apresentados que, a partir de 1925, começaram as ratificações dos padrões internacionais de trabalho da região e que, durante os primeiros anos, esse processo acelerou e coincidiu “com o momento de fundação codificação do trabalho na América Latina”.
A codificação do trabalho foi “um processo sustentado e de ondas longas” na região, no qual é possível detectar “uma influência óbvia da OIT”.
O pesquisador Andrés Stagnaro, da Universidade Nacional de La Plata, na Argentina, disse que está sendo gerada uma “reflexão coletiva” sobre a presença da OIT nessa parte do mundo e falou sobre a implementação de uma “Rede latino-americana de estudos sobre a Organização Internacional do Trabalho”, da qual participam acadêmicos que estudam vários aspectos da história do mundo do trabalho.
“Em uma época em que falamos muito sobre o futuro do trabalho, parece-nos importante recuperar a história da OIT”, disse a pesquisadora argentina Victoria Basualdo, para quem as conclusões das pesquisas são importantes para “iluminar o presente”, especialmente quando se está criando uma nova visão das relações laborais no mundo.
Basualdo, que em um dos livros abordou a questão da “Ditadura e trabalho” nas respostas ditatoriais às queixas sindicais apresentadas à OIT (Argentina, 1976-1983), disse que a história pode resgatar lições importantes do desenvolvimento das instituições de trabalho, bem como os acontecimentos que deixaram uma marca no mundo do trabalho na região.