Ciclo de Cinema debate encarceramento em massa com a especialista Camila Dias 25/06/2018 - 10:30

O 2º Ciclo de Cinema em Direitos Humanos está chegando ao fim. Na quinta e penúltima exibição da mostra, o filme apresentado foi Quase Dois Irmãos da diretora Lúcia Murat. A obra, de 2004, se passa no Rio de Janeiro mas pode ser considerada uma leitura do Brasil em três momentos e sob duas óticas. Quase Dois Irmãos começa nos anos 50, passa pela década de 1970 e vai até os anos 90. Por meio da ligação entre Miguel (Caco Ciocler e Werner Schünemann), que passa de preso político a Deputado Federal e Jorge (Flavio Bauraqui e Antônio Pompeo – que tem uma atuação irretocável), que é preso por assalto a banco e nos anos 90 se torna um poderoso líder do tráfico.

O filme mostra, de maneira bem didática, a formação das principais facções criminosas do país e é uma mostra do nosso ineficiente e corrupto sistema prisional.
Apesar de ter alguns problemas com o roteiro, muito cheio de tramas secundárias que atrapalham o viés do filme e interpretações aquém da força que a história exige, Quase Dois Irmãos é uma fonte de subsídio para uma discussão muito atual sobre encarceramento em massa, violência e crime organizado.

E esse foi o tema do debate realizado após a exibição do filme, com Professora Doutora Camila Caldeira Nunes Dias graduada em Ciências Sociais, com mestrado e doutorado em Sociologia pela Universidade de São Paulo. Atualmente é professora do Bacharelado em Políticas Públicas da Universidade federal do ABC (UFABC), atuando principalmente nos seguintes temas: sistema prisional, criminalidade organizada, segurança pública, violência criminal, redes criminais em regiões de fronteira, conversão religiosa, trajetória religiosa. 

Durante a sua fala, Camila fez uma análise sobre as transformações da atuação do Primeiro Comando da Capital, principal organização criminosa em atuação no Brasil. “O PCC é extremamente organizado e, em 2003 suas ações decisões deixaram ser centralizadas e hierárquicas, passando para um modelo de administração em núcleos. O PCC atua hoje como um regulador dos conflitos oriundos do tráfico de drogas dentro das comunidades periféricas”, explicou Camila.

As 60 pessoas que estavam presentes no encontro puderam também ouvir a professora doutora ressaltar a ineficiência do modelo histórico de encarceramento no Brasil. “Nós temos uma seletividade social e racial por parte dos órgãos competentes por combater a criminalidade e a violência no país. São poucos os presos que estão na cadeia por mandato, após terem sidos investigados. A maioria está lá após um flagrante. E quem é preso em flagrante? Quem está na ponta da cadeia do tráfico. E lá dentro, com condições sub-humanas, a transformação do indivíduo não acontece. Só 11% dos encarcerados no Brasil estão matriculados e estudam. Um número baixíssimo e que mostra a falta de uma política séria para a recuperação social esperada da privação de liberdade”, afirmou a professora doutora.

O 2º Ciclo de Cinema em Direitos Humanos é uma parceria da Escola de Educação em Direitos Humanos (ESEDH), da secretaria de Justiça, Trabalho e Direitos Humanos com a Universidade Federal do Paraná (UFPR) e tem o apoio do Centro Cultural da Espanha, do EDUCINE – Laboratório de Cinema e Educação da FAP/UNESPAR e da produtora VideoFilmes.

No dia 04/06 será realizada a última exibição do ciclo, com o filme Narradores de Javé, de Eliane Caffé. O tema do encontro é o direito ao passado e o debatedor da noite será o Clóvis Gruner, da UFPR.

A exibição será na Cinemateca de Curitiba, às 19 horas. A entrada é gratuita.



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