Pesquisa Olho por Olho - contradições mostram que cariocas não compreendem direitos humanos 17/04/2017 - 17:30
A defesa dos direitos humanos é incompatível com o controle da criminalidade para 73% dos cariocas, segundo a pesquisa Olho por Olho?, divulgada hoje (5) pelo Centro de Estudos de Segurança e Cidadania da Universidade Cândido Mendes. Quando confrontados com exemplos de situações mais concretas, no entanto, os entrevistados posicionam-se muitas vezes a favor dos direitos de que afirmam discordar, apontam os pesquisadores responsáveis.
"Temos contradições. Embora grande parte da população não acredite que lutar contra a violência seja compatível com o respeito aos direitos humanos, em uma série de outros dados, fica claro que a população não aceita violações específicas", diz a coordenadora do centro de pesquisas, Julita Lemgruber.
Na opinião da pesquisadora, existe incompreensão do termo "direitos humanos" que, muitas vezes, é confundido com impunidade ou "privilégio de criminosos". "A gente tem um dever de casa de explorar essas brechas e trabalhar com a população", afirma.
Para 56% dos entrevistados, quem defende direitos humanos defende bandidos. Apesar disso, 47% discordam da frase "os bandidos não respeitam os direitos dos outros, por isso, não merecem ter direitos".
A maior parte (61%) dos entrevistados afirma que a polícia deve, sempre que tiver escolha, prender em vez de matar. Para 93%, a polícia não pode atirar em quem acha que é criminoso. Além disso, mesmo diante da certeza de que alguém cometeu um crime, 75% são contra o disparo, e 69% são contra a polícia atirar em quem está fugindo e 29% discordam até mesmo de que a polícia dispare contra quem está apontando uma arma para os agentes.
"Essa pesquisa aponta para a possibilidade de desconstrução dessa lógica do 'bandido bom é bandido morto'. Há espaço para discussão com a sociedade", destacou Julita.
A pesquisa identificou uma base de cerca de 40% dos cariocas que têm uma atitude pró-direitos humanos na questão da segurança pública. Eles são contra o chavão "bandido bom é bandido morto", discordam da pena de morte e são contra linchamentos. Por outro lado, 12,5% declararam ser a favor da frase, da pena capital e da justiça com as próprias mãos.
Para o pesquisador Ignacio Cano, os dois grandes freios à ideia de que bandido bom é bandido morto são a defesa da legalidade e a religião. O estudo identificou que 37% da população concorda que bandido bom é bandido morto.
"Apesar de defender [a tese de que] bandido bom é bandido morto, a maioria dessas pessoas está pensando mais em uma pena legal do que em uma execução sumária ou um linchamento na rua", destaca.
A pesquisa mostrou que os religiosos praticantes, especialmente os evangélicos, são o grupo que mais discorda da frase e também o que mais acredita na ressocialização.
"Os religiosos, muitas vezes, acreditam que Deus é o único que pode tirar a vida", explica Cano, que defende uma renovação do discurso em defesa dos direitos humanos. "É preciso uma reciclagem. Nossa linguagem deve ser mais próxima da linguagem das pessoas, e não da dos tratados internacionais apenas".
Para Cano, é preciso desnaturalizar a ideia de "guerra" no Rio de Janeiro, desconstruir a demonização da figura do traficante e apontar o fundo racista nas violações dos direitos humanos.
Exposição
A pesquisa mapeou também a exposição das pessoas a cenas de violência e identificou as redes sociais Facebook e WhatsApp como as principais plataformas em que os entrevistados tiveram acesso a vídeos de violação de direitos humanos.
Do total de entrevistados, 42% já viram pessoas sendo mortas na internet, 40% já assistiram a tiroteios envolvendo policiais e 38% já viram vídeos de linchamentos.
A pesquisa ouviu 2.353 pessoas, com ao menos 16 anos, em pontos de fluxo do município do Rio de Janeiro. O questionário, com mais de 40 perguntas, foi aplicado em março e abril do ano passado.
Por: Vinícius Lisboa - Repórter da Agência Brasil
Edição: Lílian Beraldo
"Temos contradições. Embora grande parte da população não acredite que lutar contra a violência seja compatível com o respeito aos direitos humanos, em uma série de outros dados, fica claro que a população não aceita violações específicas", diz a coordenadora do centro de pesquisas, Julita Lemgruber.
Na opinião da pesquisadora, existe incompreensão do termo "direitos humanos" que, muitas vezes, é confundido com impunidade ou "privilégio de criminosos". "A gente tem um dever de casa de explorar essas brechas e trabalhar com a população", afirma.
Para 56% dos entrevistados, quem defende direitos humanos defende bandidos. Apesar disso, 47% discordam da frase "os bandidos não respeitam os direitos dos outros, por isso, não merecem ter direitos".
A maior parte (61%) dos entrevistados afirma que a polícia deve, sempre que tiver escolha, prender em vez de matar. Para 93%, a polícia não pode atirar em quem acha que é criminoso. Além disso, mesmo diante da certeza de que alguém cometeu um crime, 75% são contra o disparo, e 69% são contra a polícia atirar em quem está fugindo e 29% discordam até mesmo de que a polícia dispare contra quem está apontando uma arma para os agentes.
"Essa pesquisa aponta para a possibilidade de desconstrução dessa lógica do 'bandido bom é bandido morto'. Há espaço para discussão com a sociedade", destacou Julita.
A pesquisa identificou uma base de cerca de 40% dos cariocas que têm uma atitude pró-direitos humanos na questão da segurança pública. Eles são contra o chavão "bandido bom é bandido morto", discordam da pena de morte e são contra linchamentos. Por outro lado, 12,5% declararam ser a favor da frase, da pena capital e da justiça com as próprias mãos.
Para o pesquisador Ignacio Cano, os dois grandes freios à ideia de que bandido bom é bandido morto são a defesa da legalidade e a religião. O estudo identificou que 37% da população concorda que bandido bom é bandido morto.
"Apesar de defender [a tese de que] bandido bom é bandido morto, a maioria dessas pessoas está pensando mais em uma pena legal do que em uma execução sumária ou um linchamento na rua", destaca.
A pesquisa mostrou que os religiosos praticantes, especialmente os evangélicos, são o grupo que mais discorda da frase e também o que mais acredita na ressocialização.
"Os religiosos, muitas vezes, acreditam que Deus é o único que pode tirar a vida", explica Cano, que defende uma renovação do discurso em defesa dos direitos humanos. "É preciso uma reciclagem. Nossa linguagem deve ser mais próxima da linguagem das pessoas, e não da dos tratados internacionais apenas".
Para Cano, é preciso desnaturalizar a ideia de "guerra" no Rio de Janeiro, desconstruir a demonização da figura do traficante e apontar o fundo racista nas violações dos direitos humanos.
Exposição
A pesquisa mapeou também a exposição das pessoas a cenas de violência e identificou as redes sociais Facebook e WhatsApp como as principais plataformas em que os entrevistados tiveram acesso a vídeos de violação de direitos humanos.
Do total de entrevistados, 42% já viram pessoas sendo mortas na internet, 40% já assistiram a tiroteios envolvendo policiais e 38% já viram vídeos de linchamentos.
A pesquisa ouviu 2.353 pessoas, com ao menos 16 anos, em pontos de fluxo do município do Rio de Janeiro. O questionário, com mais de 40 perguntas, foi aplicado em março e abril do ano passado.
Por: Vinícius Lisboa - Repórter da Agência Brasil
Edição: Lílian Beraldo
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